terça-feira, 25 de junho de 2013

Os amigos de Jesus


Nas celebrações eucarísticas, após a consagração, proclamamos, convictos: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!” Anunciar a morte do Senhor “até que Ele venha” (1Cor 11,26) supõe, para os que participam da santa Missa, assumir o compromisso de transformar a própria vida para que ela se torne, de certo modo, toda eucarística.

Não é fácil fazer da vida uma Eucaristia contínua. Assumindo esse programa, manifestamos estar dispostos a nos oferecer ao Pai, à imitação de seu Filho, que ao entrar no mundo, disse: “Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7). Mas, por que nos oferecer ao Pai? Por que fazer Sua vontade? A fé nos dá a resposta: porque Deus é Deus.

“Deus, sem mim, continua sendo Deus. E eu, sem Deus, o que serei?” foi a pergunta que uma jovem fez a si mesma, como atestava um bilhete afixado na parede de seu quarto. Porque Deus é Deus, é digno de toda honra e glória. O não reconhecimento de sua glória é uma grave omissão. O pior, contudo, é que além de muitos não o reconhecerem como Deus e Senhor, o ofendem de forma consciente e sistemática. O pecado é justamente isso: uma ofensa a Deus: “Contra ti, só contra ti eu pequei, eu fiz o que é mal a teus olhos” (Sl 51/50,6a).

Quanto Deus é ofendido diariamente! Ao perceber as dimensões do pecado no mundo, Santa Teresa d’Ávila comentou: “Saio dessa vida sem compreender como é que o homem é capaz de ofender a Deus”. Pior ainda é quando os pecados são feitos justamente por quem deveria amá-lo. Com razão, São João da Cruz exclamava: “O Amor não é amado”.

No Horto das Oliveiras, Jesus convidou três apóstolos para permanecerem a seu lado: “Ficai aqui e vigiai comigo!” (Mt 26,38). No início de sua vida pública, quando os chamou a serem apóstolos, já havia deixado claro para que os convidara: “Jesus subiu a montanha e chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e para que os enviasse a anunciar a Boa Nova” (Mc 3,13-14). Chamou-os, pois, antes de tudo “para que ficassem com ele”. Hoje, ele continua chamando homens e mulheres para o seguirem e ficarem com ele.

É interessante notar que não escolhe e chama necessariamente as pessoas mais preparadas, mais virtuosas ou inteligentes. Chama quem ele quer, escolhe “vasos de barro”, mas sempre para que fiquem com ele. Com ele, aprenderão a amar o Pai, a oferecerem sacrifícios pelos que estão longe de Deus e a implorar a misericórdia divina em favor da humanidade. Jesus deixou transparecer a força que um coração orante tem junto do Pai. Já o livro de Jonas (séc. VIII AC) havia dado a esse respeito um belo testemunho: “Deus viu o que os ninivitas fizeram e como voltaram atrás de seus caminhos perversos. Compadecido, desistiu do mal que tinha ameaçado. Nada fez.” (Jn 3,10)

As pessoas que permanecem junto do Mestre merecem o nome de “amigo” e formam o grupo dos “amigos/amigas de Jesus”. Tais amigos prolongam a missão de Jesus na Igreja e no mundo. Ao completarem em sua carne o que falta à paixão de Cristo (cf. Cl 1,24), colaboram na obra da redenção. A vida dos amigos de Jesus tem o seu ponto alto na Eucaristia. É ali que, mais do que em qualquer outro momento, os amigos e as amigas de Jesus tornam-se eficazes, pois se oferecem ao Pai “com Cristo, por Cristo e em Cristo”.

Ser amigo de Jesus é um programa de vida. Quem aceita permanecer com ele não precisa sair por aí dizendo isso para todo o mundo; é suficiente que o diga a ele próprio. Mas os amigos de Jesus não demorarão a descobrir que o testemunho de suas vidas é uma das melhores formas de evangelização. Vendo-os, muitos se perguntarão: Por que é que eles são assim? Por que vivem dessa maneira? Como é que são tão felizes? Quem é que os inspira? A resposta a essas perguntas poderá ser dada de muitas formas. Talvez a mais adequada seja aquela que foi dada pelo apóstolo Paulo, e que somos chamados a fazer nossa: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20a).

Dom Murilo S.R. Krieger/CNBB

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